sábado, 17 de junho de 2017

Para não esquecer

Ela me atravessou, foi inevitável assim que a vi. Como um espetáculo diante dos meus olhos. 
É tão bonito ver sua inocência, seu lado bom, mesmo que escondido em seus sorrateiros surtos de controle. Na verdade, a fase que ela está passando é difícil, sabe? Ninguém quer se comprometer com uma luta diária estressante.
Às vezes nos colocamos em situações que são complicadas de resolver. Mas ela não me engana não, essa fortaleza mascarada em suas inseguranças e esse desejo de provar independência a todo custo, ah, isso é coisa de gente grande. E gente grande também tem medo. Conheci uma mulher  que tem medo de abrir o chuveiro, pensa que vai tomar um choque a qualquer momento. Mas essa mulher não é o tipo de mulher que tem medo de chuveiro, ela tem medo da decepção e de que nada dê certo, ela prioriza seus objetivos como ninguém. Ela espera que mesmo com toda a monotonia, possa ver graça nisso tudo depois. Então, cultiva com amor suas ideias, para que suas realizações floresçam. Tenho me alimentado de seus abraços, eles me fazem te sentir em seu estado mais puro, e quando prolongados, eu sinto que quero demorar mais. Eu entendo você, entendo o nosso encontro. Talvez tenha um pouco de presunção nessa frase, mas sabe quando bate aquela certeza? Eu posso não estar na sua pele, porém entendo perfeitamente. Para não esquecer: deixe florescer.

sábado, 3 de junho de 2017

Dos nudes da alma

E sobre o beijo me veio a inspiração de dissertar; não sobre o velado, pois imagino quantos viés ele já despertou. Imagino, inclusive, quantos corações aceleraram no encontro dos lábios, e quantas mentes saíram confusas por não sentir a entrega propriamente.
Quero falar daquele beijo que imagino, aquele que ocupa meus pensamentos, aquele que passou a ser razão de meu desejo por muitos dias. Falo de um encontro não seco, porém não muito molhado: na medida! Daquele que provoca arrepios a cada movimento intenso; que não tem pressa ou ansiedade de se fazer acontecer; que não se mostra invasivo, usando a língua de uma forma desordenada.
Falo daquele suave, que parece mais uma degustação fina do que uma realização de êxtase. 
Aquele que busca a emoção da vivência não apenas no tempo presente, mas que tenta extrair o contato de todas as outras vidas, se possível.
Aquele que permite leves mordiscadas, e puxões de cabelo, que deixa o fôlego acelerado, que nos impulsiona a gemer, quando nem percebemos.
Aquele que se prolonga por minutos, tal horas e ainda assim não se faz fadigar.
Aquele que une a alma, que traduz uma linguagem universal.

Eu quero um beijo de molhar a calcinha.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Desabafo dos beijos velados

Eu tinha o péssimo hábito de beijar as pessoas e não colocar a língua, eu achava impuro, falso, achava tudo de ruim naquele maldito beijo de língua.
 Eu acreditava que o beijo deveria ser o encontro mais puro das almas, para mim era uma coisa tão íntima, que eu podia jurar entender as prostitutas, não que eu fosse com qualquer um para cama, isso era ainda pior, na verdade, eu demorei um pouco para me entender como mulher.
 Eu só beijaria verdadeiramente quando amasse alguém.
 Mas espera um pouco, como que isso daria certo?
 É completamente absurdo, mas eu mantive assim.
Eu dava os beijos mais enrolados e banguelos da vida de alguém, e ainda tinha quem gostasse. 
Manti beijos velados por anos.

Memória apagada

Anos atrás eu quis escrever um livro, me lembro que ele chegou a ter 120 páginas. A personagem principal era uma adolescente cheia de inseguranças que tinha acabado de se mudar para uma cidade desconhecida, eu não sei se minha cabeça era fantasiosa demais, mas, num dado momento, essa personagem já tinha dois convites para o baile e um pai satanista. Era a época do "Crepúsculo" e todo mundo queria um enredo estranho, eu só queria fazer bonito com meu best seller.
Essa ideia de livro passou, eu simplesmente cansei de ficar ali escrevendo uma história sem fim, e logo depois eu descobri que ia me cansar de coisas que para as pessoas eram cruciais na vida de alguém. Fui enjoando de todos os meus passatempos, não escrevia mais sonetos de ouro, nem fazia anotações em meu diário, eu me dei conta de que estava envelhecendo. Talvez isso seja um grande drama, porque eu não sou velha, e é um absurdo pensar que nessa época já me sentia assim.

Mas você já se sentiu preso em um corpo que não lhe pertence?

Luluna

Mirai, criatura do horizonte!
Com esses olhos taciturnos.
O que se esconde nessa gélida sombra?
Me encurrala com o gume dessa tão assombrosa foice, que já não atina como fizera outrora.
Me ceifa e arrebata, me prende em uma semana.
Já jaz da minha pobre alma, lamentos que em ti derrama.
É o fulgor que se esvai da sua bondade, e que ganha nova melodia. 
A eufonia de uivos das crianças vazias.
Olhai como é majestosa!
Até quando rouba todo o brilho de seu rival pomposo.
Contemplai suas formas e sua dança, que embriaga escapulida o desespero dos amantes.
Eis que torna-me tua serva, com atributos surreais... 
Faz-me canídea selvagem, solitária, ameaçadora, diva da noite fugaz.

Flor da Noite

Ela tem um quê de mistério,
envolvido em brumas vermelhas, do seu balançar.
Ela cura, protege e acalma,
tão bela e sutil, que quase não sinto o seu pesar.
Mas na alma de doce menina, a vida é brisa,
o passado não vai assombrar.

Seu corpo é um mapa de histórias, marcadas de glórias e também de dor
Cada cor que ela pinta,
nela brota,
a face do anjo que foi preso na flor.
Tens cheiro de amor quando desabrocha, não é cheiro de rosa, é cheiro de mulher.
Ela entra, invade e domina, é forte a menina que faz o que quer.

Se dos vícios tens conhecimento.
Dona Rosa Caveira vai te solicitar.
Saravá Dona Rosa da Noite!
A ti dou meu açoite onde possas ficar.

Mas se tens uma missão muito branda, sozinha não andas...
Quem sou eu para te atrapalhar?
E se passas por mim, obrigada!

Tua calma na alma me deixa sonhar.